23 de fev. de 2011

Primeiros passos para a cultura científica

Projeto Ciência, Arte e Magia desperta o conhecimento de jovens a partir de atividades lúdicas e jogos interativos

Juliana Marques

Eles vivem cheios de ideias, mas muitas vezes não sabem como colocá-las em prática. São muitos os jovens que se interessam por ciência, mas poucas são as escolas que estimulam atividades pedagógicas fora das salas de aula. Pensando nisso, um grupo de pesquisadoras do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) criou o projeto Ciência, Arte e Magia, com o objetivo de estimular a criatividade de estudantes por intermédio de atividades lúdicas, como jogos eletrônicos, de tabuleiro e oficinas de vídeo sobre temas científicos. 

Criado em 2005, o projeto atende hoje alunos do ensino fundamental e do ensino médio de quatro escolas públicas em Salvador. Para ingressarem com seus próprios trabalhos no Ciência, Arte e Magia, os alunos são selecionados previamente pelas instituições de ensino de acordo com a área de interesse. A coordenadora pedagógica do programa, Rosimere Lira, explica que para participar, o estudante precisa ser dedicado, presente, gostar de estudar ciência e estar disposto a seguir a vocação. “Perguntamos logo no início qual profissão o aluno quer seguir e se ele conhece a importância da profissão para a sociedade”, conta Lira.

Alunos do Colégio Estadual Evaristo da Veiga apresentam seus jogos na 8ª Semana de Museus, em maio do ano passado em Salvador.
(Foto: Divulgação Ciência, Arte e Magia)

Ao integrarem o Ciência, Arte e Magia, os estudantes desenvolvem um projeto de pesquisa e são orientados pelos próprios professores. Eles escolhem o tema que querem trabalhar e criam atividades interativas, como os jogos, desenvolvidos com o apoio de estagiários de ciência da computação da UFBA. Os resultados e o produto final das pesquisas são publicados no site do projeto, em livros, em seminários e congressos. A equipe tem também como meta publicar on-line todos os jogos eletrônicos criados pelos alunos.

Para incentivar a participação dos estudantes, o projeto realiza diversos eventos e atividades em parcerias com museus e centros de ciências na cidade de Salvador. “Temos inúmeros museus, cheios de histórias para contar. Ao levarmos o Ciência, Arte e Magia para dentro das instituições, os jovens percebem que também podem fazer parte deste universo, que pode ser interativo e divertido”, explica a coordenadora.

Novas ideias e inspiração a cada ano

A seleção para o ingresso no projeto é feita anualmente pelas escolas participantes. São elas: Escola Alfredo Magalhães, Colégio Estadual Evaristo da Veiga, Colégio Estadual Odorico Tavares e Colégio da Polícia Militar (Unidade Dendezeiros). Lira conta que mesmo depois de passarem no Vestibular, muitos alunos continuam participando do projeto como voluntários ou estagiários. “Eles ficam conosco e seus depoimentos estimulam a chegada de outros jovens, que veem como suas ideias podem sim se tornar grandes projetos”, destaca a pedagoga.

Estudantes do Ensino Médio desenvolvem jogos de tabuleiro no Centro de Ciências da Universidade Federal da Bahia.
(Foto: Divulgação Ciência, Arte e Magia)
Além do desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa, os estudantes também participam de oficinas de vídeo científico, em parceria com a Escola de Comunicação da UFBA. Outros projetos do Ciência, Arte e Magia são o blog Pergaminho Científico, que exibe notícias sobre a produção dos alunos e os eventos que participam; e a Sala Verde “Ciência, Arte e Magia”, criada para popularizar o acesso à informações sobre o meio ambiente.

Na Sala Verde, uma das propostas é a criação de um jornal sobre meio ambiente com crianças e adolescentes da comunidade Alto de Ondina, em Salvador. Lá, a UFBA atua em parceria com o Centro Integrado de Apoio à Criança e ao Adolescente e desenvolve diversas atividades com os jovens, como peças teatrais, palestras, experimentos científicos e oficinas. 

Estimular os estudantes a fazerem o que gostam é o objetivo principal da professora de ciências e biologia do ensino fundamental Bárbara Rosemar: “Os alunos passam a ser os responsáveis pela busca de informações e conhecimento, e têm o desafio de reescrever este conhecimento de forma lúdica e prazerosa. O resultados finais são maravilhosos e nos dá a certeza que estamos no caminho certo”, comemora a professora.


Conheça os jogos criados pelos alunos: Ciência Lúdica - Brincando e aprendendo com jogos sobre ciência


Leia os depoimentos dos alunos André Luis Melo e Igor Gomes da Costa, bolsistas do projeto:

Participar de um projeto de Iniciação Científica é uma experiência indescritível. A quantidade de coisas que se aprende, o mundo que se descobre... Tudo isso é muito gratificante para qualquer estudante do Ensino Médio que almeje entrar em uma universidade. Participo do “Ciência, Arte e Magia” desde 2009, ao final desses dois anos só tenho a agradecer. As orientações e os diálogos nos fazem crescer não só profissionalmente, mas também pessoalmente. Como todo desafio, o projeto tem dificuldades que existem para serem superadas - o que é possível com o auxílio dos orientadores e colegas.

André Luis Melo, 16 anos, está no 3º ano do Colégio da polícia Militar



Estudo física e química atômica desde os 5 anos de idade, mas nunca havia tido a oportunidade de colocar em prática o que vinha estudando. Então, vi no projeto “Ciência, Arte e Magia” a oportunidade de começar a construir o caminho para o meu grande sonho: ser um grande físico nuclear! (...) O meu primeiro trabalho “Refutação da Teoria do Flogisto através da Técnica da Dilatação Térmica Linear” foi sofrido, mas resultou em um grande e interessante experimento, fruto de meses de pesquisa. Esta foi a primeira coisa que mudou em mim: a maneira de estudar. Vou renovar minha bolsa e continuar participando do projeto pois não tem dinheiro no mundo que pague o prazer de ser reconhecido naquilo que você mais ama fazer. (...) O Ciência Arte e Magia é uma oportunidade para poucos, então esses "poucos" precisam aproveitar ao máximo. No futuro, contribuirei com o projeto e ajudarei ao máximo os alunos que desejam crescer no mundo científico como eu cresci.

Igor Gomes da Costa, 16 anos, está no 3º ano do Colégio Estadual Odorico Tavares