Juliana Marques
O princípio é simples e milenar. Desde a antiga Babilônia, 2 mil anos a.C., o homem já usava a força dos ventos na produção da energia cinética para moer grãos de plantações em um dispositivo simples, hoje semelhante aos famosos moinhos. Mas foi a partir do século XX, por volta da década de 1970, e em meio a crises mundiais do petróleo que a tecnologia começou a evoluir. Foi o aumento dos preços da energia de origem fóssil que levou ao investimento em tecnologias inovadoras para geração de eletricidade a partir da força dos ventos.
Atualmente, a energia eólica tem conquistado países em todo o mundo, mas poucos ainda apostam no potencial de cada região. Em 2010, no entanto, o crescimento no setor foi de 22,5% e a produção de energia elétrica alcançou novos territórios como China e Chile, que planeja construir ainda este ano 20 novos parques eólicos. De acordo com o relatório anual da Associação Mundial de Energia Eólica (World Wind Energy Association, em inglês), o recurso já é capaz de abastecer cidades inteiras, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. Em 2009, os cata-ventos gigantes de todo o mundo contabilizaram 340 Terawatts-hora – o suficiente para gerar eletricidade a toda Itália durante um ano.
Depois da Europa e Estados Unidos, a Ásia e a América Latina mostram que a força dos ventos pode impulsionar a geração de uma energia menos agressiva ao meio ambiente. Ano passado, a China foi a principal protagonista dos investimentos deste setor, e alcançou até mesmo pequenos vilarejos no interior do país por intermédio de microparques eólicos, levando luz a milhares que vivem sem energia.
No Brasil, apesar do elevado potencial proporcionado pelos ventos da região litorânea, ainda existem poucos cata-ventos produzindo eletricidade. Aqui, a principal fonte de energia ainda é a hidrelétrica, mas seus danos ao meio ambiente são preocupantes. As usinas geram energia e ao mesmo tempo destroem a biodiversidade, causam danos irreversíveis em áreas florestais e são responsáveis pela remoção de centenas de comunidades, especialmente tribos indígenas. Elas serão, por exemplo, as mais afetadas caso a usina de Belo Monte seja construída no Pará. A polêmica em torno da hidrelétrica já dura mais de 20 anos, e por isso, não faltam motivos para incentivar fontes mais limpas e eficientes, como energia solar, eólica, das marés e biogás.
Atualmente, alguns dos principais parques de energia eólica estão localizados no litoral Nordeste do país, especialmente em estados como Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Sul. Este mês, a cidade do Rio de Janeiro recebeu o Congresso de Energia Eólica da América Latina, um evento que reuniu pesquisadores, empresários, engenheiros e órgãos governamentais para debaterem e compartilhar novas estratégias para os investimentos necessários à multiplicação dos cata-ventos em todo o continente latino.
O potencial do Brasil: apesar de fortes ventos atingirem grande parte do Brasil, ainda são poucos os investimentos no setor. Em Fernando de Noranha, apenas uma turbina é responsável pela geração de energia para toda a ilha. No mapa, as áreas mais claras mostram onde os ventos são mais velozes. (Imagem: Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL) |
A meta é impulsionar a alternativa para que tecnologias nacionais sejam desenvolvidas e valorizadas. De acordo com Stefan Gsänger, secretário geral da Associação Mundial de Energia Eólica, a principal dificuldade não é instalar as turbinas e hélices, mas desenvolver toda a infraestrutura que compõe o parque eólico: “A energia precisa ser canalizada de alguma forma. Falta de recursos e tecnologias são alguns entraves enfrentados por países subdesenvolvidos e em desenvolvimento”, afirma. O secretário explica ainda que após mover as hélices dos cata-ventos, a energia passa por um gerador que produz a eletricidade. É necessário ter um equipamento computadorizado para adequar as pás à direção e velocidade do vento. Em seguida, a energia é transmitida para uma central que distribui a eletricidade para vilas, cidades e estados.
O poder do vento pelo mundo em 2010:
(De acordo com a Associação Internacional de Energia Eólica)
1 - Estados Unidos - 36 mil MW (megawatts)
2 - China – 33 mil MW
3 - Alemanha – 24 mil MW
4 - Espanha – 19 mil MW
5 - Índia – 12 mil MW