Juliana Marques
Pesticidas, desmatamento e mitos que envolvem o imaginário popular têm causado graves problemas aos morcegos. Conhecidos especialmente por seus hábitos noturnos e hematófagos, estes mamíferos voadores assustam quem desconhece o papel deles no equilíbrio da natureza e da biodiversidade. Adorados em alguns países, mas temidos em outros, os morcegos possuem cerca de 1.100 espécies espalhadas pelo mundo, sendo que metade delas está ameaçada de extinção. Sim, eles saem à noite para se alimentar, mas estão longe de serem vampiros.
Para estimular o conhecimento a respeito destes animais – pertencentes à ordem quiróptera – o Programa para o Ambiente das Nações Unidas (Unep), decidiu escolher 2011 como o ano do morcego. O objetivo é promover a conservação, pesquisas e a educação para ressaltar a importância das espécies ao meio ambiente. Como a grande maioria dos morcegos come frutos, néctar e insetos, eles se tornam animais indispensáveis no controle de pragas, polinização, e dispersão das sementes. Para se ter uma ideia deste equilíbrio, basta tomar como exemplo os morcegos insetívoros: alguns deles conseguem ingerir mais de três mil insetos em apenas uma refeição.
Segundo os especialistas em quirópteros, os morcegos só são perigosos quando transmitem raiva, mas a doença se manifesta apenas em espécies hematófagas. “Os morcegos raramente atacam humanos. Mas na América Latina, em especial, milhares de animais são mortos por puro preconceito. As pessoas não apenas o dizimam como também destroem seus refúgios”, afirma o médico Merlin D. Tuttle, embaixador de honra da campanha e fundador da Conservação Internacional de Morcegos.
De fato, portanto, existem morcegos que se alimentam de sangue de outros animais. A boa notícia é que há no planeta apenas três espécies de morcegos “vampiros”. A má, é que todas as três estão restritas à América Latina, e são as maiores responsáveis pela transmissão de raiva entre seres humanos. Mas não há motivo para pânico. De acordo com o biólogo Wilson Uieda, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), os ataques a humanos só acontecem quando há mudanças drásticas no ambiente em que os morcegos vivem: “Na ausência de presas selvagens, os morcegos hematófagos ferem cães, cavalos, galinhas e seres humanos. Constatei também que é comum, por exemplo, encontrar casos de raiva em comunidades indígenas que recebem terras do governo. Eles deixam de ser nômades, vivem sempre em um mesmo lugar e viram presas fáceis para os morcegos”, explica Uieda, um dos maiores especialistas do país em quirópteros.
No Brasil, e outros países como o Reino Unido, morcegos e suas moradias estão sob a Lei de Proteção à Fauna. Portanto, capturar, machucar, matar morcegos ou até mesmo destruir suas moradias é crime. No Reino Unido, inclusive, há biólogos e especialistas de plantão para resgatá-los em caso de incidentes com seres humanos. E enquanto nas Américas os morcegos causam arrepios, na China são considerados símbolos de felicidade e riqueza. Já na Escócia, um imóvel é valorizado quando passa a ser habitado pelos mamíferos voadores.
Ao todo, existem 138 espécies espalhadas pelo país. Aqui, as espécies hematófagas são encontradas especialmente na região norte, em vilarejos no interior do Amazonas e do Pará, onde animais domésticos passam a ser comuns. As espécies Diphylla ecaudata e Diaemus youngii alimentam-se apenas de sangue de aves, enquanto a Desmodus rotundus tem preferência por qualquer mamífero indefesos com um sono profundo.
Algumas curiosidades sobre os morcegos:
- Incluindo os hematófagos, existem ao todo seis subordens de morcegos:
- morcegos-pescadores, que usam seus dedos dos pés e unhas longas para
capturar insetos e pequenos peixes sob a água;
- morcegos carnívoros, se alimentam especialmente de roedores e rãs;
- morcegos nectarivos, têm preferência por certas espécies de flores;
- morcegos frugívoros, se alimentam de frutos maduros.
- Ao contrário do que muitos pensam, os morcegos têm ótima visão, adaptada a ambientes com pouca luminosidade. Algumas espécies chegam a enxergar 10 vezes melhor que seres humanos. Além disso, eles contam com a ecolocalização, um tipo de sonar que detecta a distância dos objetos, tamanho, velocidade e até mesmo a textura por meio de ondas sonoras!
- As espécies hematófagas possuem curiosidades à parte: Alguns morcegos chegam a ter uma longevidade de até 30 anos. Depois de darem à luz, as fêmeas passam um ano cuidando do filhote: amamentando e fazendo higiene corporal.
- Não é fácil para um mamífero acordar no meio da noite e perceber que há um morcego se alimentando com seu sangue. A mordida é pequena, os dentes não perfuram e eles liberam pela saliva um anticoagulante especial. A substância já está sendo estudada em laboratórios norte-americanos para o tratamento de pessoas que sofreram derrames.
- Nos Estados Unidos, produtores agrícolas estão investindo nos morcegos para plantarem alimentos orgânicos: Os morcegos agem no controle da população de insetos e os agricultores abandonam o uso de pesticidas.
- Para evitar visitas indesejadas de morcegos em sua casa, cubra aberturas e frestas de concreto, madeira ou tijolo e verifique telhas soltas. Ainda que a abertura seja pequena, morcegos de tamanhos menores podem se abrigar. Em paredes feitas de pedras, onde os espaços são maiores, a passagem fica ainda mais simples, já que os morcegos se instalam em locais seguros, escuros e úmidos. Instale telas ou mantenha portas e janelas fechadas, especialmente durante a noite.
Saiba mais sobre o estudo de morcegos no Brasil:
http://www.sbeq.org/