1 de dez. de 2010

Biodiversidade para a saúde

Especialistas da Fiocruz defendem pesquisas em fitoterápicos e a proteção das espécies com propriedades medicinais


Juliana Marques


Imagine reunir em uma única horta alimentos e plantas medicinais que são capazes de prevenir, e até mesmo curar algumas doenças. Isso não só é possível, como também viável, já que muitos dos vegetais encontrados na flora brasileira possuem importantes propriedades medicinais. Estas, no entanto, ainda são pouco conhecidas pelos brasileiros. Por isso, pesquisadores da Fiocruz, coordenadores do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) estão dispostos a tornar este conhecimento mais acessível, e ainda trabalhar para preservar os biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal.

Para promover debates sobre o acesso seguro e o uso racional das plantas medicinais pela sociedade e indústria, o NGBS lançou o projeto Redes Fito, que conta com notícias e artigos acadêmicos, incluindo a revista científica Fitos. Durante a primeira semana de novembro, o Núcleo promoveu o I Workshop de Biodiversidade e Inovação em Fitomedicamentos no Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de aproximar e discutir interesses acadêmicos, industriais e governamentais sobre os fitoterápicos, e especialmente valorizar a promoção da saúde pública no estado. O Workshop contou ainda com a presença de pesquisadores franceses, que estabeleceram um intercâmbio científico internacional sobre as pesquisas na área.

De origem chinesa, o Gingko Biloba é um dos fitoterápicos mais populares.  
Seu extrato possui propriedades antioxidantes, capazes de reduzir vertigens, 
aliviar dores e ativar a memória. (Crédito: Rob Emagen)

Segundo o coordenador do NGBS, o pesquisador Glauco de Kruse Villas Boas, os fitoterápicos são feitos a partir de extratos vegetais padronizados e validados do ponto de vista da sua eficácia, segurança e qualidade. “O Brasil tem quase um terço da flora mundial, representada em dez biomas, com uma biodiversidade exuberante. Entretanto, muito pouco tem sido realizado para transformar este potencial em vantagem competitiva, em produtos e patentes, principalmente se considerarmos um desenvolvimento que garanta a repartição social dos benefícios e de outro, a proteção e manutenção destes ecossistemas”, explicou.

Agricultores recebem capacitação

Para a engenheira agrônoma da Universidade de São Paulo (USP), Marly Terezinha Pereira, o uso racional das plantas medicinais e fitomedicamentos deve ir além do meio acadêmico e industrial: “O conhecimento deve chegar ao agricultor familiar. No Brasil eles produzem cerca de 70% dos alimentos produzidos pelos brasileiros e seus contextos sociais devem ser valorizados”. Ela defende ainda a criação de programas rurais sustentáveis diferenciados para os produtores brasileiros, já que suas realidades são bastante distintas. “Com a presença de fitoterápicos, plantas medicinais e aromáticas no programa de agricultura destes pequenos produtores, é possível valorizar a biodiversidade e promover a saúde no meio rural”, afirmou a pesquisadora.

Na indústria de medicamentos da Fiocruz, Farmanguinhos, uma das prioridades é a produção de medicamentos a partir de origem vegetal. Esta iniciativa busca contribuir para o uso sustentável de plantas medicinais brasileiras, valorização dos fármacos nacionais. No Rio de Janeiro, o projeto Profito, que cultiva plantas medicinais nas comunidades da região do Parque Estadual da Pedra Branca, é dos beneficia a produção local por meio da capacitação dos produtores agrícolas.

Plantas medicinais são cultivadas no campus Fiocruz Mata Atlântica, 
localizado na zona oeste do Rio de Janeiro. (Crédito: Alex Mansur/Farmanguinhos)


Na Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, os fitoterápicos são temas recorrentes nos trabalhos produzidos.  Nesta 5ª edição, a Escola Estadual Professora Estefânia Matos, em Itapagé, Ceará, foi a vencedora Regional Nordeste I, com o vídeo “Plantar é Renascer”. No trabalho, um grupo de alunos decidiu aprender sobre as plantas medicinais e plantaram uma horta na escola, deixando-a mais bonita, e é claro, ainda mais saudável.

Para saber mais sobre as propriedades medicinais dos alimentos, confira o portal Plantas Medicinais, da USP. Ele conta com receitas e informações atualizadas sobre vegetais que são comuns nas refeições de muitos brasileiros.