19 de out. de 2010

Desafios em mares de todo o mundo

Protegidas no Brasil pelo Projeto Tamar, as tartarugas marinhas são ameaçadas pela pesca e poluição nos oceanos 

Juliana Marques

Elas chegam a nadar milhares de quilômetros para cruzar oceanos e depositar seus ovos nas areias das praias. Conhecidas por realizarem longas jornadas migratórias, as tartarugas marinhas, encontradas em mares de todo o mundo, enfrentam diversas dificuldades para sobreviver. Quem faz o alerta é o Dr. Paulo Barata, pesquisador da Fiocruz e consultor do Projeto Tamar-ICMBio, o programa de conservação que protege as tartarugas marinhas em cerca de 1.100 km de praias brasileiras.

Para detalhar os desafios encontrados atualmente pelas tartarugas marinhas, Barata ministrou uma palestra durante o VII Simpósio de Ecologia: Interações ecológicas e doenças transmissíveis, evento promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fiocruz e ICMBio que reuniu pesquisadores e estudantes de biologia na Fiocruz, na primeira semana de outubro. 

A pesca é hoje um grande problema para as tartarugas marinhas, que podem ficar presas em redes e anzóis colocados no mar por pescadores artesanais e por frotas de barcos, chegando às vezes a morrer por este motivo. No mar operam barcos pesqueiros de diversas bandeiras, e as tartarugas marinhas podem passar por águas de diferentes países em suas migrações. Por isto, segundo Barata, apesar do Tamar mobilizar grandes esforços para preservar estes animais, os problemas que eles encontram vão além do que um único país pode fazer: “A conservação das tartarugas marinhas requer cooperação internacional, pois estes animais não conhecem fronteiras".

A tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) é encontrada em todo o litoral do Nordeste do Brasil, especialmente na Bahia. (Foto: Projeto Tamar)

Além da pesca nos oceanos, outros fatores são responsáveis pelo desafio de sobrevivência das tartarugas marinhas, como a poluição do mar, alterações climáticas, com possíveis mudanças nos regimes de temperatura, chuvas e correntes marítimas, e o desenvolvimento de áreas costeiras, que recebem construções como hotéis, portos e instalações industriais. Essas modificações no habitat podem ter influência no processo de incubação dos ovos nas praias e também sobre as tartarugas no mar. A presença de poluentes nos mares pode estar associada ao aparecimento de tumores, uma doença observada atualmente em tartarugas marinhas de todo o mundo.

Atitudes e conscientização

Barata explicou que antes da criação do Projeto Tamar, em 1980, pescadores e a população litorânea não apenas recolhiam a maior parte dos ovos depositados nas praias, mas dizimavam tartarugas todas as noites. Os animais serviam como alimento e suas carapaças eram aproveitadas para confecção de objetos artesanais. “Com a atuação do Tamar, as pessoas passaram a ter mais consciência sobre a importância das tartarugas para a vida marinha”, contou o pesquisador.

Filhotes da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) acompanham a luminosidade e correm em direção ao mar. (Foto: Projeto Tamar)
Desde o início de suas atividades o Tamar criou parcerias com as comunidades locais nas áreas em que atua. Os pescadores que capturavam as tartarugas nas praias foram contratados para trabalhar no projeto de conservação. Este é tido como um dos principais motivos para os bons resultados observados atualmente. Barata destacou que, hoje, quase 100% dos ovos conseguem eclodir nas praias, e os dados disponíveis indicam um processo de recuperação de algumas das populações de tartarugas marinhas que desovam no Brasil.

Saiba mais sobre as tartarugas marinhas e o Projeto Tamar