6 de out. de 2010

A ciência artística de ser um humano

Artistas e cientistas entrelaçam suas disciplinas em debate na Fiocruz

Juliana Marques

Sentados em círculo, professores, estudantes, cientistas, atores e artistas se reuniram na Tenda da Ciência, da Fiocruz, para conversarem sobre a arte e a ciência, duas diferentes áreas da cultura capazes de potencializar o interesse pelo conhecimento quando se unem. O debate ocorreu durante a Simpósio Ciência e Arte 2010, na penúltima semana de setembro, e contou com diversas atividades relacionadas aos temas, como mostras, peças de teatro, palestras e oficinas.

Público interage com a apresentação do grupo Tupinagô (Foto: Juliana Marques)

Após uma apresentação teatral do grupo Tupinagô de Arte e Ciência, o público conheceu o trabalho do professor de medicina e filosofia da ciência da Universidade Federal do Ceará (UFC), Hélio Rola. Ele contou, a partir de suas experiências profissionais, como um cientista também pode ser artista: “É preciso ir além da reflexão do fazer científico. Nós somos seres biológicos–culturais desde o início de nossa existência, mas para muitos esta integração ainda é um desafio”, afirmou o professor, que também é artista plástico e periodicamente envia mensagens eletrônicas aos seus alunos com suas pinturas e reflexões filosóficas.

O cientista, desenhista, fotógrafo e poeta Nelson Vaz também acredita que a união da arte com a ciência impulsiona a curiosidade do homem, especialmente em conhecer a si mesmo: “O homem sempre esteve curioso sobre suas origens e elaborou maneiras de fazer questionamentos sobre a natureza. Mas muitas vezes, cientistas não questionam sobre suas próprias realidades e papéis na sociedade”, comentou Vaz.

O ator Antônio Pedro e o cantor Ney Matogrosso também participaram do colóquio e mostraram como os artistas, no fundo, são muito parecidos com os cientistas. “Tenho a mente aberta e tudo me interessa, desde história à geologia. Sou curioso e transgressor por natureza, e defendo a liberdade de expressão para que as pessoas possam realmente fazer a diferença na sociedade em que vivem”, contou Matogrosso, membro do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).

Matogrosso, Rola, Vaz e Pedro dividem suas experiências artísticas e científicas (Foto: Juliana Marques)

Já Antônio Pedro explicou como o teatro é capaz de interagir com formação cultural e científica: “O teatro é o verbo emocionado, no palco é possível viver o texto, vivenciar as experiências junto com o autor. Não é apenas o cientista que detém o conhecimento. Ele está intrínseco em todos os seres humanos”, afirmou o ator.

O público também pôde contar histórias, declamar poesias e dividir suas experiências sobre como realizam abordagens científicas diferenciadas em escolas e universidades. Na Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, escolas de todo o Brasil já puderam inscrever seus trabalhos na modalidade Arte & Ciência, hoje substituída por Produção Audiovisual - que não deixa de lado a criatividade e a inovação.