22 de set. de 2010

Lições de ensino e aprendizado

Especialistas em malária comemoram na Fiocruz o sucesso do seminário que há 15 anos reúne pesquisas sobre a doença

Juliana Marques

Uma das enfermidades infecciosas com maior número de casos no mundo, a malária ainda é a causa de muitas mortes no continente africano. No Brasil, apesar dos inúmeros casos na região amazônica, sua letalidade não alcança 0,1%. Com o objetivo de reduzir ainda mais as ocorrências, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fiocruz, criaram o Seminário Laveran & Deane, um encontro anual que reúne na Ilha de Itacuruçá, no Rio de Janeiro, estudantes de pós-graduação e professores interessados em promover ainda mais o conhecimento sobre a doença.

Criado em 1995 a partir da inspiração em um grupo de pesquisas francês sobre a malária, o seminário homenageia dois grandes cientistas: o cirurgião militar francês Alphonse Laveran, o primeiro a descrever o protozoário do gênero Plasmodium, o parasita da doença; e o médico e cientista paraense Leônidas de Mello Deane, que foi pioneiro no estudo da doença leishmaniose visceral e endemias rurais. Além disso, atuou no combate ao mosquito transmissor da malária em diversas regiões do Brasil, e se tornou um parasitologista renomado internacionalmente.

Em seu 15º aniversário, o Laveran & Deane já contou com quase 500 participantes e analisou mais de 200 projetos relacionados à malária. O seminário abrange os avanços das pesquisas e mostra como é possível construir um grupo de pesquisas inovador, que não só valoriza os estudos, mas também as relações humanas nos processos de investigação científica. Segundo o idealizador do projeto e chefe do Laboratório de Pesquisas em Malária do IOC, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, um dos objetivos do encontro é promover o intercâmbio entre estudantes e especialistas. “O mais importante é a interação com os estudantes. Buscamos temas interdisciplinares para enriquecer ainda mais o aprendizado e atrair diferentes projetos relacionados à malária”, afirmou.

Para Daniel-Ribeiro, a interdisciplinaridade do seminário enriquece ainda mais o aprendizado (Foto: Gutemberg Brito/IOC)

Provenientes de universidades e centros de pesquisas de todo país – em especial da região amazônica, os estudantes encontram no seminário a oportunidade de promoverem seus projetos, participarem de discussões em grupo, elaborarem relatórios e estabelecerem até mesmo relações com pesquisadores de outros países. Para Daniel-Ribeiro, o principal trunfo do Laveran & Deane é sua contribuição para o combate à malária, já que mais de 80% dos pós-graduandos permanecem estudando a doença após a participação no seminário.

Para o pesquisador e editor da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Ricardo Lourenço, o mais enriquecedor é promover uma relação direta entre professores e alunos: “Doamos a eles tudo que sabemos e tudo que estudamos. E eles se interessam ainda mais pelo assunto, tendo novas ideias para os projetos”, comentou o cientista, que registra nove participações no Laveran & Deane.

“A capacitação humana é um dos diferenciais do Seminário” - Ricardo Lourenço (Foto: Gutemberg Brito/IOC)


Segundo Lourenço, muitas das lições de ensino aplicadas durante a semana do seminário foram herdadas da formação humana defendida por Leônidas Deane. “Leônidas acreditava que o mais importante era a formação humana. Ele era um professor dedicado: mesmo experiente, preparava todas as suas aulas com cuidado, confeccionava mapas, fazia colagens... Tudo para valorizar o aprendizado dos alunos”, contou.

Saiba mais sobre a malária no site do Ministério da Saúde
Visite o glossário de doenças do site da Fiocruz