22 de set. de 2010

Duas vidas pela ciência

Fiocruz celebra o centenário de nascimento dos pesquisadores Carlos Chagas Filho e Haity Moussatché

Juliana Marques

Os pesquisadores Carlos Chagas Filho (1910-2000) e Haity Moussatché (1910–1998) têm em comum características que vão além de suas contribuições para as ciências. Visionários, inovadores e persistentes, se dedicaram à produção do conhecimento científico, e encararam inúmeras dificuldades em uma época em que pouco se investia em pesquisas no país. Entretanto, foram reconhecidos internacionalmente pelo legado que deixaram. Na última semana, ganharam homenagens especiais pelo centenário de seus nascimentos, e mostraram que seus ideais nunca estivaram tão atuais.

Carlos Chagas Filho inspirou-se na trajetória de seu pai, e formou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Posteriormente, decidiu seguir sua carreira na área de bioeletricidade, em que pesquisou sobre a propagação elétrica nos peixes, especialmente no poraquê amazônico. Sempre com um espírito empreendedor, foi o primeiro a trabalhar com microscopia eletrônica no Brasil e organizou diversos seminários internacionais, que rendiam investimentos em pesquisas no país. Nomeado embaixador do Brasil na UNESCO, foi autor de livros e centenas de artigos, e presidiu a Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano. Seu centenário foi celebrado em uma cerimônia na Academia Brasileira de Letras (ABL), onde ocupava a nona cadeira.

Chagas Filho em seu gabinete, no Instituto de Biofísica da UFRJ (Foto: Artigo Ciência, política e paixão – arquivo de Carlos C. Filho)

Haity Moussatché ganhou, no Instituto Oswaldo Cruz, uma homenagem que reuniu pesquisadores, familiares, amigos e estudantes. Nascido na Turquia, Moussatché formou-se em medicina pela UFRJ tal como Chagas Filho, e iniciou sua carreira como estagiário no Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Logo tornou-se pesquisador e professor, e em seguida, chefiou as seções de Farmacodinâmica (estudo das ações de medicamentos no organismo) e Fisiologia, respectivamente. Apesar de ter tido seus direitos cassados durante a ditadura militar, seguiu para Venezuela e lá foi professor na Universidade Centro-Ocidental, auxiliando inúmeros grupos de pesquisa. Moussatché publicou cerca de duzentos trabalhos nas áreas de bioquímica e fisiologia, foi membro da Academia Brasileira de Ciências e fundou a Sociedade Brasileira de Biologia.

Moussatché foi autor de mais 200 artigos científicos (Foto: Arquivo pessoal/Renato Cordeiro)

Durante a homenagem, o presidente da Fiocruz Paulo Gadelha ressaltou as principais contribuições do cientista para a sociedade e contou como sua significativa trajetória serve como um exemplo único para jovens cientistas: “Haity acreditava no potencial do Brasil e de nossos jovens. Era um otimista persistente, um homem franco e com espírito crítico, sempre questionador, carismático e dedicado,” afirmou.


Carlos Alberto Aragão, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), explicou como sua trajetória, e a própria criação do CNPq foram inspirados pelo legado de Moussatché: “Queremos trazer à tona o talento de novos pesquisadores. É neles que buscamos investir, para valorizar a ciência e contribuir com o desenvolvimento do país. Haity provou que nós podemos alcançar esta meta, é a ele a quem dedico meu trabalho”, afirmou.