10 de nov. de 2010

Minúscula ameaça

Você sabia que um mosquito pequenino chamado maruim é capaz de transmitir uma doença chamada Febre de Oropouche?


Juliana Marques

Os sintomas são comuns: febre alta, dor de cabeça, dores musculares e cansaço. Esta doença pode ser facilmente diagnosticada como dengue, muito conhecida por todos os brasileiros. Porém, um exame mais cuidadoso pode determinar que na verdade esta enfermidade é a Febre de Oropouche, transmitida pelo diminuto maruim, integrante de uma família cientificamente conhecida como Ceratopogonidae. Também conhecido como mosquito pólvora ou mosquito do mangue, ele é encontrado em todo o mundo, e seu tamanho não ultrapassa dois milímetros. 

Curiosamente, apenas a espécie Culicoides paraensis é a transmissora da Febre de Oropouche. A doença é causada pelo vírus Oro, e foi registrada pela primeira vez no Brasil em Belém do Pará, em 1961. A partir dos anos 80, outros surtos epidêmicos se sucederam atingindo diversos estados da região amazônica brasileira e, o mais recente foi em 2009 no Amapá. No entanto, grande parte da população ainda desconhece a febre. E como a enfermidade, até agora, não tem avançado a estágios mais graves, felizmente não foram registrados casos fatais.


A fêmea do maruim Culicoides paraensis, transmissora da Febre de Oropouche só tem um milímetro, 
mas sua picada é agressiva. (Crédito: Jerry Butler)

Segundo a bióloga e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) Maria Luiza Felippe Bauer, apesar do tamanho, o maruim tem uma picada bastante incômoda. Ela afirma que, dentre outros, o bananal é um habitat favorito da espécie porque ela se reproduz nos cepos e troncos que permanecem no solo após a colheita da banana: “os sulcos dos cepos, além da umidade própria, ficam encharcados pela chuva, e viram um criadouro ideal para a multiplicação destes maruins”. Felippe-Bauer explica que uma das maneiras de diminuir a incidência do mosquito, e por consequência a doença, é a limpeza cuidadosa nas plantações, com a retirada dos pedaços de troncos que são deixados no bananal. Além disso, um manejo diferenciado do bananal pode - e deve - ser avaliado. Ela esclarece ainda, que são necessários estudos a respeito dos criadouros em ambientes modificados pelo homem como áreas de monocultura da banana, para que sejam propostos métodos eficientes de combate a esses pequenos insetos.


A plantação de bananeira é um habitat favorito para a reprodução dos pequenos maruins 
transmissores da Febre de Oropouche. (Crédito: Maria Luiza Felippe Bauer)


Como se prevenir?
Como o maruim é um inseto minúsculo, Felippe-Bauer afirma que telas nas janelas não bloqueiam sua entrada e que para evitá-lo, pouco adianta usar repelentes tradicionais: “A estratégia para não ser picado é evitar exposições nos horários de picos dos insetos, justamente quando eles saem para se alimentar, pela manhã entre 7h e 9h, e à tarde, entre 16h e 18h. Além disso, vestir calças e blusas de manga comprida, e utilizar um óleo corporal na pele exposta ajuda a evitar a picada”, explica.

Na imagem é possível observar os sulcos úmidos dos cepos de bananeiras, um ambiente ideal para 
o crescimento das larvas dos maruins. (Crédito: Maria Luiza Bauer)

A pesquisadora conta ainda que com as mudanças climáticas podem ocorrer mudanças nas infestações: “Esta espécie apresenta ampla distribuição nas Américas, ocorrendo desde os Estados Unidos até o Uruguai. Com o aumento das temperaturas, os maruins encontram novas áreas favoráveis a sua multificação, servindo como vetores para a transmissão da Febre de Oropouche. Por isso, a possibilidade do surgimento de novas epidemias não deve ser descartada”.