31 de ago. de 2010

Muito além de um legado

Simpósio internacional comemora os 30 anos de erradicação da varíola e discute o futuro de outras doenças

Juliana Marques

Cientistas de todo o mundo se reuniram na Fiocruz entre os dias 24 e 27 de agosto para celebrar uma vitória da ciência: os 30 anos da erradicação da varíola, uma das mais graves doenças infectocontagiosas já conhecidas e a primeira a ser eliminada por meio da vacinação. No Simpósio Erradicação da Varíola após 30 anos: lições, legados e inovações, os pesquisadores não apenas relembraram as estratégias mundiais desenvolvidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas debateram sobre a eficácia do combate a enfermidades como malária, filariose e ancilostomose, que ainda causam problemas de saúde pública em muitos países,.

Okwo fala de experiências africanas
Apesar de inúmeros investimentos em vacinas e tratamentos, os cientistas alertaram que as principais soluções para a erradicação das doenças estão no conhecimento de suas causas e na prevenção. Segundo o diretor do Departamento de Imunização da OMS, J.M. Okwo Bele, o desafio consiste em atuar nos locais com pouco ou nenhum investimento em infraestruturas básicas para a saúde, tais como redes de esgoto e saneamento. “Para combater a poliomielite na África realizamos um programa de erradicação que durou 20 anos, e contamos com a ajuda de 20 milhões de voluntários. Cerca de 2,5 milhões de crianças foram vacinadas e conseguimos reduzir o número de países endêmicos de 34 para 2”, afirmou Okwo Bele, que atualmente trabalha em parceria com a Unicef para expandir o programa a outros países e desenvolver novas vacinas.

Richards destaca prevenção de doenças
Durante o simpósio, os pesquisadores brasileiros também puderam conhecer um pouco mais sobre graves enfermidades que atingem outros países. A Dracunculose, ou doença do verme da Guiné, por exemplo, é comum no continente africano e na Índia. Transmitida pela filária do gênero Dracunculus medinensis, ainda não possui cura ou vacina. Portanto, segundo o médico norte-americano do Centro Americano de Controle e Prevenção das Doenças – The Carter Center, Frank Richards, o combate está justamente na prevenção da enfermidade: “A proliferação dos vermes na água é rápida. Por isso, o mais importante é educar a população sobre as formas de contágio, mobilizar comunidades para que utilizem filtros e não bebam a água contaminada”, explica. Também conhecido como pulga d’água, o verme da Guiné migra para o corpo humano quando há a ingestão da água. Ele não vive no estômago, mas sob a pele, causando lesões, vômitos, náuseas e até mesmo asma.

Desafio nacional

No Brasil, diversas doenças como sarampo, rubéola e poliomielite, já são evitadas em função do aumento da cobertura de programas nacionais de imunizações. Os programas selecionam os denominados grupos de risco e vacinam primeiramente os indivíduos mais vulneráveis às doenças, como idosos, indígenas e crianças. Com isso, a transmissão das doenças diminuiu progressivamente. No entanto, apesar de atualmente o país levar vacinas a 5.600 municípios, cerca de 13 milhões de pessoas brasileiras ainda vivem em locais sem instalações sanitárias domiciliares. Por isso, os pesquisadores destacaram a importância de investimentos em setores como educação e saneamento básico para erradicar ainda mais enfermidades.